terça-feira, 23 de julho de 2019

A Doce Arte


Hoje, enquanto preparava o jantar pensava sobre o Educar e quanto ensinar o outro implicam responsabilidades que vão além de conteúdos acadêmicos. Refletia acerca do quanto é viver o que você ensina... O curioso, é que há poucos dias ouvi um áudio que tratava exatamente sobre isso, falava a respeito do comportamento docente em ralação à humildade, entre outras coisas e, em meio aos pensamentos, mergulhada em meus arquivos mentais, que não são poucos, recordei-me de uma aula que tive há algum tempo.

Certa vez trabalhei com chocolates, produzindo artigos sazonais, fui buscar um curso que ensinava fazer corações de chocolate rendado, nunca consegui fazer, mas naquele dia tive um aprendizado que levo para a vida. A professora odiava chocolate, cada vez que ela experimentava a temperatura, que se afere no lábio, fazia cara de nojo, limpava com muito asco e repetia: “odeio chocolate”.
Na ocasião indaguei mentalmente: “como alguém tem nojo de algo que ensina a fazer?”, nem preciso dizer que o chocolate dela era muito ruim, mas ela tinha a técnica para fazer com que o coração ficasse lindíssimo. Aprecio aprender as coisas e saber tudo sobre chocolate, naquele momento, era meu foco. Pensava nas pessoas que degustariam a doce obra, que elas mereciam saborear um bom chocolate, além da beleza, há o sabor, a textura, desde então, passei a experimentar todos os chocolates que fazia e assim sigo para tudo que faço.

Mas, como experimentar uma aula?

No campo pedagógico existem avaliações que trazem técnicas para aferir a compreensão do conteúdo, avaliações e medições que o professor pode trazer informações ou dados que são importantes para o desenvolvimento das aulas e apontar caminhos. A técnica é relevante e necessária, isso é inquestionável. Mas, vejo também, que falta o professor experimentar sua própria aula, sentir o que o aluno sente, saborear o que produz. Para tanto, o professor, educador, facilitador, tutor, instrutor ou a forma que você se identifique, precisa estar aberto para receber tal informação, entender a importância de se observar autenticamente. Não é fácil, muitas vezes a pessoa não percebe a necessidade dessa observação quanto a seu comportamento ou tem para si que sua ação é a verdade e refuta a possibilidade de mudança. Essa conduta é refletida em aulas em que a pessoa não domina o assunto ou não concorda com o que é ensinado, pior, quando o docente de determinado conteúdo é, em sua vida cotidiana, um violador daquele tema.

Um exemplo similar, que repercutiu de forma bastante negativa, foi o Juiz que representava o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos ser denunciado por violência doméstica pela sua esposa. Esse foi um caso extremo, de grande gravidade e de amplitude mundial. Por isso é muito importante observar e considerar as condutas de quem educa, professor de direitos humanos ser violador das leis; de ética não tendo ações éticas. Isso é tão sério, imaginem alguém ensinando sobre as leis de assédio moral e sexual sendo assediador, esse conteúdo estaria comprometido? Sob qual ótica é ensinado? Na do assediado ou do assediador? Pense em um professor de Yoga que não gosta de meditação e não vive em sua rotina as práticas meditativas, como ele vai ensinar seus alunos se ele não tem para si?

Entre várias conversas filosóficas que tive com o amigo Jorge Mattoso, que ministra aulas na EMASP - Escola Municipal de Administração Pública da Prefeitura de São Paulo, falávamos sobre o quanto esse comportamento contraditório é decepcionante ao aluno, pois ao identificar que seu “mestre” não é o que transparece ser, um gatilho interno é acionado comprometendo todo o processo de ensino-apendizagem. Analise quão grave é o resultado de um comportamento inapropriado e que vai de encontro ao discurso.

A ética e a moral devem ser companheiras diárias daqueles que se comprometem com a formação de indivíduos e veem nisso uma razão de viver, pois ser Educador é ter para si que, o cuidar do outro é objetivo de vida e deve ser encaminhado de maneira extremamente relevante, é um zelo, um plus, um detalhe minucioso. Mesmo se tratando da formação de adultos, de pessoas já previamente definidas e com caráter e personalidades já formados. Instruir, faz de você um fomentador de opiniões, o que você transmite para as pessoas com seus ensinamentos auxilia ela a fazer escolhas. Pondere: o que você tem aprendido e ensinado?

Para isso eu pergunto: você compraria sua aula? Indicaria o seu trabalho para alguém? Mas, se ainda assim não compreender, vislumbre alguém e faça-a ter seu comportamento e sua postura perante as pessoas com as quais você trabalha e responda: você acreditaria nessa pessoa? Compraria e ficaria satisfeito pela aula que está recebendo? Indicaria para sua esposa ou seu marido? Para seus filhos?

Mário Sergio Cortella traz em seu livro a reflexão “Qual a sua obra”, o título já é bem direto e provocativo quanto ao legado que você vai deixar e serve de indicação para profunda autoanálise. Aproveite a dica e faça uma incursão, medite se suas ações concatenam com o que você “prega”, “canta”, “explana”, “demonstra”, “expõe”, verifique de fato, se suas palavras condizem com sua conduta e saboreie o gosto da resposta do questionamento:

Você já provou seu chocolate hoje?

*Corretor ortográfico e amiga: Tatiana Albuquerque




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